quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
O "inferno" hebraico
Irmão Elias, Sheol e Hades não significam lugar paralelo. Estas palavras encontram significado na cultura local onde Sheol e Hades referem-se ao mundo contrário ao vivo, ou seja, o mundo dos mortos. A Bíblia retrata este mundo como o oposto do mundo dos vivos, onde, não há lembranças (Salmos 6:5), não se fazem planos, não há pensamentos (Salmos 146:4), não tem parte no que acontece no mundo dos vivos (Eclesiastes 9:6). A imagem utilizada para referenciar este mundo dos mortos é a sepultura:
https://www.bibliaonline.com.br/acf/busca?q=sheol
Nas Bíblias, encontra-se a palavra inferno, quando na realidade os versos falam da sepultura. Quando lemos estes textos, sempre vem na mente a imagem de um lugar debaixo da terra ardendo em chamas, derivado da mente grega que herdamos do período medieval. Porém, percebe-se claramente por estes versos que as referências do escritor hebreu é quanto à sepultura, à morte:
"Pois grande é a tua misericórdia para comigo; e livraste a minha alma do inferno mais profundo." Salmos 86:13
O inferno, ali traduzido, é "cova"! "livraste a minha alma da cova mais profunda".
A ideia da morte era algo terrível para a cultura hebraica, não necessitava haverem chamas ou castigos. O que mais temiam era o esquecimento, a incapacidade de fazer planos, e o fato de nunca mais se ter parte no que acontece acima da terra, debaixo do sol. Não porque tenham consciência, mas justamente por não terem consciência.
"Os cordéis da morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; encontrei aperto e tristeza." Salmos 116:3
Mais uma vez, inferno aqui é sepultura, irmão. Este é o problema de terem usurpado o real significado das expressões que se referem a sepultura, mundo dos morto, introduzindo ali a palavra "inferno".
Oscar Cullmann, considerado a maior autoridade em Novo Testamento de nosso século, ao perceber a discrepância entre o significado original das palavras todas traduzidas por "inferno" e a noção grega do que seria um inferno, percebeu que de modo algum poderia se presumir de que fossem a mesma coisa.
Nisto notou que o pensamento hebraico não aceitava a possibilidade da existência de uma alma imortal, para o pensamento hebraico, alma era a pessoa viva, suas emoções, seus sentimentos.
O perecimento destas coisas era justamente o maior medo do hebreu:
"Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol." Eclesiastes 9:6
É neste contexto de morte, sem esperança, que brilha o ensinamento da ressurreição.
E temos que entender, irmão que o fogo que não se apaga, é como, o fogo que um bombeiro combate, mas não consegue vencer, e o bicho que nunca morre é como o parasita, que você tenta mas não consegue matar. Não significa que o fogo nunca se apagará ou que o verme nunca morrerá, mas que não se apaga, nem morre. Ou seja, não é possível apagá-lo, nem matá-lo.
A ideia que Cristo usa para exemplificar isto é o Gehena, onde lixo era queimado junto com corpos de criminosos, e o que não era queimado era consumido pelos vermes. Era esta mesma visão aterradora que o profeta Isaías usa para definir a morte dos ímpios. Porém, em dado momento o fogo cessa e o bicho deixa de atormentar, quando não há mais corpos nem lixo a serem consumidos.
Eternidade quanto ao fogo e ao bicho deve se entendido como algo inextinguível, como foi o fogo e o enxofre derramados sobre sodoma e gomorra, bem como os Ribeiros de Edom.
"Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno." Judas 1:7
"E os seus ribeiros se tornarão em pez, e o seu pó em enxofre, e a sua terra em pez ardente.
Nem de noite nem de dia se apagará; para sempre a sua fumaça subirá; de geração em geração será assolada; pelos séculos dos séculos ninguém passará por ela." Isaías 34:9,10
Veja que é a mesma linguagem utilizada para definir o castigo dos ímpios. Entretanto, Sodoma e Gomorra continuam queimando com o fogo eterno que os consumiu?
Não, irmão! Se os consumiu é porque completou o seu propósito. Certo erudito disse que o fato de a fumaça subir é prova de que o fogo completou o seu trabalho, é o que sobra quando não há nada mais a ser queimado. E fumaça é tomada como um simbolo para "lembranças", lembrança daquele terrível castigo.
Duas coisas chocavam muito a nação hebraica, o estado de inconsciência na morte e o destino de seus cadáveres! Assim esta cultura tinha o maior cuidado com a questão de suas mortes, ter um lugar apropriado a serem enterrados. Tinham também muito cuidado com o corpo, preparando-o com especiarias e aromas.
Estas visões então do "inferno", mundo do mortos (no estado de inconsciência) e o corpo na sepultura eram muito aterradoras para aquela cultura.
O livrar da morte era o principal atrativo para aquela cultura, por isto a doutrina da ressurreição era a maior esperança para aquele povo (Ezequiel 37:4-12).
Percebe, irmão, como a noção de Sheol e Hades não tem nada a ver com um lugar especial de tormento? A própria sepultura e a morte eram motivos de tormento para o hebreu.
Interessante notar que os próprios profetas, salvos em Deus, se colocavam na situação de que desceriam ao Sheol! Portanto não é possível ser um lugar RESERVADO aos ímpios! Por todo o texto bíblico, notamos que os profetas aplicam esta condição à todos os vivos, independente de estarem salvos ou não. A Bíblia aplica estes desígnios da morte a todo homem assim como a todo animal (Eclesiastes 3:19).
O conceito de Sheol é apresentado como um destino inescapável. Os escritores bíblicos se preocupavam também com a salvação. Temiam estar no estado mais profundo da morte, a sem qualquer esperança, de quem morreu sem ter obtido a salvação. É nesse cenário caótico que a salvação brilha, livrando o homem daquele estado da morte, o salário do pecado.
O castigo é construído sobre uma figura de destruição e falta de esperança, com uso de fogo e vermes inextinguíveis, pelos quais são consumidos lentamente, tendo como resultado uma morte eterna, irremediável, a consumação do maior temor hebreu, não restando nada, senão a fumaça que sobe na lembrança do castigo que permanece eternamente.
Este, irmão, é o "inferno" hebraico.
Um abraço.
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