Não pregou, irmão Rogério, almas e espíritos se referem a pessoas vivas.
Cristo pregou através do Espírito Santo:
"pelo Espírito; No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão;" 1 Pedro 3:18,19
Os espíritos mencionados eram as pessoas vivas que receberam a pregação por meio de Noé antes da vinda do dilúvio enquanto Noé construía a arca, conforme se diz no verso seguinte.
De qual escravidão Cristo, por meio do Espírito Santo, falando através de Noé, procurou livrar aqueles homens?
"Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai." Romanos 8:15
"...e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros." Romanos 7:23
"Quanto ao ímpio, as suas iniqüidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido." Provérbios 5:22
A libetação do povo Israelita no Egito trouxe esta forte conotação de que a adoção de filhos por parte de Deus, livra a humanidade da prisão no pecado, simbolizado pela servidão ao faraó no Egito.
Moisés disse "deixai ir o meu povo".
"O Senhor é justo; cortou as cordas dos ímpios." Salmos 129:4
"Ai dos que puxam a iniqüidade com cordas de vaidade, e o pecado com tirantes de carro!" Isaías 5:18
"Espinhos e laços há no caminho do perverso; o que guarda a sua alma retira-se para longe dele." Provérbios 22:5
Infelizmente, irmão, a igreja deixou de estudar as Escrituras lidas por Jesus e Paulo, perdendo todo o contato com a mentalidade hebraica. Assim, quando lemos hoje passagens que falam de alma ou espírito, pensamos logo em pessoas mortas, porque é este o significado que nossa cultura tem aplicado a estas palavras. Da mesma foram quando lemos a palavra "cativeiro" associada a "espírito" imediatamente vem à nossa mente a ideia popular de um inferno.
Porém, passava muito longe disto a compreensão hebraica, eles não tinham esta ideia de um lugar de tormento onde pessoas mortas seriam castigadas, para o hebreu, alma e espírito eram pessoas, a prisão que prendia as almas e os espíritos, os quais Cristo veio libertar por meio de Sua palavra, é o pecado.
A mentalidade hebraica, irmão, utilizava muito de linguagem baseadas em termos simbólicos, comuns do dia-a-dia do povo hebreu, para que assim mentalizassem uma cena da imagem, como a de um laço prendendo o calcanhar do ímpio e os espinhos a feri-lo e que representam as consequências de seus pecados, para tornar mais rápido o entendimento e mais forte a memorização.
São formas de metáfora, irmão, tal forma de ilustração é utilizada pelos hebreus em toda a Bíblia, fazendo parte de sua cultura, ilustrações estas que Deus também se utilizou, porque sabia que era uma forma didática eficaz de fixar o ensinamento na mente dos hebreus.
E justamente o contrário irmão, usa-se vários textos para não se utilizar de ideias pré concebidas. A Bíblia não relaciona, por exemplo, a palavra cativeiro com um inferno, tal inferência, esta sim, provém de ideias pré-concebidas por meio da imortalidade da alma que não é de origem cristã.
E Cristo, irmão, usa exemplos absurdos como a do servo infiel que rouba a seu próprio senhor, do filho que desonra o pai, dentre outros, porque fazia parte da cultura colocar um fundo totalmente incorreto a fim de destacar a mensagem final que contradiz tudo o que foi usado como ilustração!
Por exemplo, na parábola do rico e Lázaro a mensagem é:
"Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite." Lucas 16:29-31
Esta parábola começa com uma ideia toda errada de que o pobre seria salvo por ser pobre e o rico seria condenado por ser rico e que a justiça nos lugares para onde vão se baseia em consolar o pobre que viveu atormentado e atormentar o rico que viveu abastado:
"Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado." Lucas 16:25
Percebe como a parábola tem um fundo moral completamente contrário? Ali Cristo aponta vários erros como o de se crer que a salvação tenha a ver com a questão de uma pessoa ser rica ou pobre, colocando o rico no tormento e o pobre na consolação, contrário ao que os israelitas em geral criam de que o rico era abençoado porque seus pais tiveram uma vida de fidelidade a Deus e o pobre era condenado porque seus pais levaram uma vida de infidelidade a Deus. De modo que é preciso entender o contexto cultural da época e o pensamento israelita nos tempos de Cristo.
Tal conceito era aplicado também aos nascidos com malformação:
"E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?" João 9:2
Os detalhes da parábola:
Mesmo em tormentos, o rico ainda não havia se dado conta da situação, tratando ao pobre como se devesse servir-lhe como criado a mando de Abraão:
"E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, E MANDA a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama." Lucas 16:24
Notamos algumas coisas interessantes aqui, a presença de água que é material, ponta do dedo que é carnal e língua que também é carnal. O conjunto disto seria um refrescar da língua com uma gota de água pingada pelo dedo.
Percebe o irmão que este história em seus detalhes não é séria? Sendo somente uma ilustração com detalhes peculiares a fim de manter a atenção e o interesse para o final daquela situação?
Além disto o rico pede uma gota apenas, como se isto fosse refrescar alguém que estava inteiro em tormento.
Mais:
"E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá." Lucas 16:26
Veja que as pessoas ali estavam conversando face a face, mas ao mesmo tempo tinha um abismo que impossibilitava os de um lado passar para o outro. Não tão próximos nem tão longe, imagine então Lázaro esticando o braço e o rico esticando a língua e curvando-se à beira do precipício para ter uma gota de água pingada em sua língua!
Percebe, irmão, que tal história se trata de uma fábula irreal? Cristo não tinha nada a temer em contar estas palavras assim como não tinha a temer em usar linguagens simbólicas porque o povo naquela época sabiam que era uma linguagem simbólica e que pelo conteúdo da história sabiam se tratava-se de fato ou não.
Parábolas eram semelhantes ao folclore de nosso tempo e expressavam uma cultura corrente naquela época. Assim Cristo falou àqueles que viviam naquela cultura, onde muitos já conheciam aquela história embora não exatamente da forma como Cristo a contou.
A mensagem que Cristo passa através desta parábola:
"Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite." Lucas 16:29-31
Percebe como Cristo chama a atenção para a obediência aos escritos de Moisés fazendo uma ligação deste proceder com a ressurreição?
Em suma, a moral da história é que não importa se alguém é pobre ou rico, mas sim se dão ouvidos ao que Deus ordenou através do Seu profeta Moisés ou não.
Percebe, irmão, que tanto Lázaro quanto o rico são mostrados na parábola como sendo pessoas vivas ainda que um tenha ido para um tormento na sepultura e o outro para um seio de Abraão? Tinham corpos, dedos, língua, braço, podiam usar os pés para caminhar e tentar pular um abismo. Percebe como o abismo representava uma dificuldade para aquelas pessoas? Não estavam flutuando, irmão, nem em forma espiritual intocável ou insensíveis ao frescor de uma gota de água.
Mesmo nesta parábola, os tais mortos são bem diferentes dos espíritos ensinados pela imortalidade da alma. Imagine se uma daquelas pessoas cai no abismo? Iria se machucar? Morrer de novo? Além de um tormento na sepultura e um seio de abraão, temos um lugar no meio, um abismo, onde as pessoas podem cair, a serem somados à uma inferno debaixo da terra e um paraíso no céu para os mortos?
Fora a informação dada na parábola, de que os dois homens haviam morrido, toda a história ilustra duas pessoas como se estivessem vivas, assim como ocorre em Apocalipse ao se referir ao pedido de vingança daqueles que foram decapitados pela pregação do evangelho, que possuem corpos que se vestem e que retornam ao estado de repouso.
De modo que temos, irmão, a impressão de a Bíblia estar apoiando a imortalidade da alma devido ao fato de sempre enxergarmos espíritos e almas como sendo pessoas mortas e as referências ao lugar para onde vai os mortos, como sendo um inferno.
Isto porque lemos estas passagens com olhos gregos ao invés de hebraicos.
Sobre os tais 120 anos:
"Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos." Gênesis 6:3
Esta passagem relata justamente aquilo que tratamos sobre os espíritos na época de Noé. Este verso indica que o Espírito Santo contenderia, ou seja, tentaria convencer aqueles homens por cento e vinte anos.
Tais supostas contradições aparecem porque lemos uma nova interpretação já tendo aprendido uma outra interpretação. O que aprendemos, irmão, nos ajudam a criar pressupostos e assim tentamos entender uma NOVA INTERPRETAÇÃO por meio de pressupostos que criamos segundo uma outra interpretação. A imortalidade da alma é um perfeito exemplo, onde sempre lemos a Bíblia com o pressuposto de que alma e espírito sejam pessoas mortas na forma de entidades imateriais, enquanto que o pressuposto de quem escreveu estas passagens era hebraico que viam o homem como um ser integral, holístico.
Um abraço.
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